Men like women who write. Even though they don’t say so. A writer is a foreign country.
Homens gostam de mulheres que escrevem. Muito embora eles não digam. Um escritor é um país estrangeiro.
Marguerite Duras
A mulher somente despreza quem ela amou demais. Não é qualquer homem que merece, não é qualquer pessoa. Pede uma longa história de convivência, tentativas e vindas, mutilações e desculpas. O desprezo surge após longo desespero. É quando o desespero cansa, quando a dúvida não reabre mais a ferida.
É possível desprezar pai e mãe, ex-esposa ou ex-marido, daquele que se esperava tanto. Não se pode sentir desprezo por um desconhecido, por um colega de trabalho, por um amigo recente. O desprezo demora toda a vida, é outra vida. É nossa incrível capacidade de transformar o ente familiar num sujeito anônimo.
[...]
Não significa que se aceitou o passado, que se tolera o futuro; é uma desistência. Uma espécie de serenidade da indiferença. Não desencadeia retaliação, não se tem mais vontade de reclamar, não se tem mais gana para ofender. Supera a ideia de fim, é a abolição do início.
Não desejaria isso para nenhum homem. O desprezado é mais do que um fantasma. Não é que morreu, sequer nasceu; seu nascimento foi anulado, ele deixa de existir.
O desprezo é um amor além do amor, muito além do amor. Não há como voltar dele.
Fabrício Carpinejar, trechos de Depois de muito amor.
O amor tem vários jeitos de se mostrar.
Pode ser uma manhã serena, com sorrisos doces, palavras açucaradas, suspiros profundos. Aquele brilhinho no olhar. Acomete adolescentes de qualquer idade.
Sol do meio-dia. Calor queimando sobre a cabeça. Além de todo o resto. As palavras inexistem, porque ninguém pensa em conversar. Ou não precisa. Ou não quer. Fugaz, volta quando encontra uma brecha. Nem os apaixonados pelo verão aguentariam sua existência durante os doze meses do ano.
Fim de tarde. Oscilação entre o encontro e o encantamento. As conversas são o ponto-chave da alegria. Conhecer o outro por tudo aquilo que ele diz, seja com palavra, gesto, piscadela ou beijo. Ser feliz junto, como diria um historiador.
A noite. É quando a confiança se anuncia. Deixar o outro conduzir quando não há luz para mostrar o caminho. Sem falar na segurança de encontrar a mão amada, que nos diz que sempre estará tudo bem.
E a madrugada, quando os porões da intimidade adentram a nossa casa. Momento da profundidade, quando conhecemos os recantos do outro para então nos reconhecermos. É no silêncio das horas iluminadas apenas pela lua que temos certeza: sim, é amor.
Enfim, o sol nasce. O primeiro raio, aquele que fez um desconhecido deixar de ser mais um para ser o único, agora renasce para nos lembrar o motivo da escolha. Por que escolhi você?
Não escolheu, encontrou.
Felizes daqueles que vivem o amor em dias completos. Há um palmo de anos, eles existem dentro de mim.