Ser convidada a entrar num mundo que é meu, mas não reconheço. Não à primeira vista. Algo não se encaixa, não estou onde deveria estar. Aquela não sou eu.
Não precisa gritar comigo. Não precisa mandar em mim: eu conheço as regras, não precisa repetir. Não vou ler seus bilhetes. Não me importo se você vai embora hoje. Não quero ouvir sequer um poema. O meu nome completo sempre foi este, diferentemente do seu.
Naquele dia, no altar, disse a ele… Você me ajuda a escrever uma carta para Jesus? Eu estou boa e meu marido vem me buscar… Não sabe, não é, minha filha? Eu estava de máscara e ele me possuiu como nunca havia feito…
O poema, o bilhete, o vestido, o caderno, os vapores. As histórias, os desejos, os medos, as emoções, os devaneios. Cada detalhe, como madrepérolas bordadas no longo vestido de noiva. Nossa história é isso: um belo vestido de noiva que bordamos a cada dia. Uma madrepérola de cada vez, com nossas pequenas mãos.
Mas insistimos em embrulhar em papel de seda o vestido bordado e guardá-lo numa caixa, no fundo do armário. Pegamos a calça jeans velha e vestimos em sinal de liberdade. Velha e rasgada. Rasgos como dores, que insistimos em ostentar. Madrepérolas como sentimentos, que insistimos em esconder.
Até o dia em que abrimos o armário e encontramos a caixa. O longo vestido todo bordado. Choramos sem saber porquê. Sem entender porquê. Não entendemos por um único motivo: nós não fomos feitas para entender.
Olhe nos olhos da mulher ao seu lado e veja a si mesma lá no fundo. Tire o longo vestido do fundo do armário e não estranhe caso comece a chorar. Nós fomos feitas para sentir e nossas pequenas mãos se encarregam de contar a nossa história.