A bisavó casou-se aos 16 anos, com um homem de 40. Alguns filhos, vários netos, um punhado de bisnetos, uma tataraneta. Ficou viúva muito cedo e, por conta do destino, tornara-se a matriarca da família. Não se casou com mais ninguém até o fim da vida.
A avó engravidou aos 18 anos, solteira. Justamente, de sua mãe. Casou-se com o seu avô alguns anos depois. Sete filhos, tantos netos, dois bisnetos. Divorciou-se em uma época que tal fato era uma aberração. Na soma geral, o casamento durou poucos anos. Criou os filhos sozinha. Nunca mais teve outro marido.
A mãe começou a trabalhar aos 8 anos. Primogênita, ajudou a sustentar os irmãos. Assim foi até os 24, quando se casou com seu pai e resolveu dedicar-se somente à família. Como não conseguira ser a filha de uma família tradicional, agora poderia ser a mãe do lar que sempre sonhou.
A tia seguiu o próprio caminho muito cedo. Casou-se sem casar, construiu sua vida, depois seguiu sozinha. Assim continuou. Viaja o mundo, segue outros rumos. Cuida de todos porque a vida nunca lhe dera filhos seus.
As quatro mulheres que a inspiram. Ela é a bisneta, a neta, a filha, a sobrinha. Criada para ser dona de si mesma, nunca esperou que alguém a amparasse, porque sabia que seu caminho seria solitário. Mesmo que não fosse, os cuidados sempre estariam em suas mãos. E assim tem sido, desde então.
Ela olha para trás e vê essas mulheres que, de uma maneira ou de outra, cuidaram de si e dos outros. Nunca foram cuidadas. Sofreram caladas, secaram sozinhas as lágrimas da solidão. Mas seguiram adiante. Ela própria é o resultado dessas mulheres que não se permitiram desistir.
Como livrar-se do fardo de carregar o mundo sob os ombros? Talvez não seja possível. A força é herança de família.